4 de outubro de 2010

Eu não te amo

Ela contou que lembra tão bem que parece que faz apenas cinco minutos que disse aquilo para ele. Faz mais de três anos e só Deus sabe o quanto foi difícil dizer aquilo. As palavras estavam ali e queriam escapar da boca a qualquer custo, mas o medo tomava conta do corpo, com a mesma intensidade que aquele sentimento, não deixava que elas fugissem assim da garganta dela. Ela sentia cada pêlo do corpo arrepiar e não sabia se era o medo ou a insuportável vontade de dizer a ele o quanto o amava. Foi tão difícil dizer” EU TE AMO”. Não que ela não o amasse, mas pelo pavor que tinha em assustá-lo. Ela não sabia como ele receberia essas três palavras. Talvez saísse correndo ou se sentisse pressionado, talvez ele até gostasse, mas Deus, ela não estava preparada para NÃO ouvi-lo dizer de volta EU TAMBÉM. Maldita insegurança. Malditas três palavras tão banalizadas e ao mesmo tempo tão temidas. As mesmas que muitos esperam ansiosamente ouvir são as que outros rezam para não receber tão cedo, com medo da obrigação de devolvê-las. Havia tantas formas de dizer isso a ele e ela já havia imaginado todas.

Em uma bela manhã em que seu coração irradiava aquele sentimento e quase lhe saltava pela boca, as palavras simplesmente saíram em forma de sussurro. Ele dormia, mas ela teve certeza que ele ouviria. Hahaha ela exagerou e disse que se fosse pela intensidade o mundo inteiro havia ouvido aquilo.



Mas não houve resposta.

Perguntei a ela: É por isso que sofre?

Ela riu: “acalma-se a história apenas começou”.



Algum tempo depois o “eu te amo” veio. Ele veio espontâneo e fora de contexto.
- Hahaha está me dizendo que existe um contexto para isso?

"Sim e Não. Às vezes a gente pode achar que quer, e depois de provar descobrir que não quer, nunca quis, apenas achou que queria. Ele era assim, sempre fora de contexto, mas o “eu te amo” aparecia vez ou outra. Quase nunca. Vinha em momentos de dor, de lágrimas ou de medo. Ela disse entender que para quem não ama é difícil querer o tempo todo. Querer só às vezes é bem mais fácil".



Enfim...Um nem tão belo dia ele resolveu ser sincero e dizer EU NÃO TE AMO. Ela achou incrível como essas palavras se encaixaram com perfeição nos lábios dele. Como fizeram todo aquele não querer fazer sentido. Todas as ações se juntaram aquela frase. Ela que apenas ouviu diz ter sentido um zumbido no ouvido, como quem caia de um lugar alto, despencava no vazio e sentia apenas dor. “Foi a antítese da sensação de dizer eu te amo a primeira vez. Algo como céu e inferno”.



Ela contou que desejou grandemente revidar, as palavras se embolaram, rodopiando pelo céu da boca livremente, batiam nos dentes, encostavam-se às gengivas, colocavam a ponta dos pés pra fora e até brincaram com a língua. Mas não saíram, não precisavam. Ela não quis fazer parte do time dele e mentir.



Ela sempre fora infantil, chorou, e inutilmente em questão de segundos preparou uma explanação completa sobre o quanto sempre o amara. Queria explicar a ele que mesmo nunca se sentindo amada ela o amava. Que mesmo que aquilo tivesse sido só uma mentira ela fez parte dela. Ela queria explicar, desenhar se preciso, para que ele soubesse que tudo o que ela havia dito, inclusive o ‘para sempre’ sempre foi verdade.



Foi então que ela percebeu que fora tola. Ela esperou enganar o destino, guardar todas as provas que ele debiberadamente emitia. Ela sabia desse “não amor” a cada manhã em que ele acordou e não sentiu a falta dela na cama. Quando não reparou mais no cheiro que ela deixava no travesseiro. Quando esqueceu de ligar, e declarou não ter tido vontade de vê-la ou ouvi-la. Ela soube no momento em que chorou e ele não se comoveu com a dor. Mas a certeza mesmo, vinha a cada vez em que ela dizia ‘eu te amo’ tão facilmente e ele apenas respondia ‘ta’ sem nem saber o que estava dizendo, de forma automática, como quem diz “não obrigado”.



Ela se mostrou estranha, disse que para sanar uma dor, só uma maior ainda. Então deu em si o golpe de misericórdia. Em um sussurro perguntou a ele se havia mais alguém. Ela confessou-me aos prantos que preferia isso a saber que simplesmente não havia mais nada ali. Ele negou outro alguém, mas sem olhá-la nos olhos. E com culpa e remorso ela se pegou agradecendo a Deus por ainda ser capaz de acreditar, mesmo que fosse mentira.



Eu estava ansiosa pelo fim dessa história, sentia compaixão por ela, raiva dele. Mas no fim o que senti foi apenas frustração porque assim com vocês eu não sei o fim da história. Ela apenas contou que tudo permaneceu no ar, o amor e o não amor. E naquela noite ela chorou até dormir e acordou com ele pesando sobre o seu corpo, violentado ainda mais sua alma ferida, e da forma que age quem não ama, ele a deixou com lágrimas nos olhos e se foi.



*



Eu e minha mania de sentir a dor dos outros. Chorei por ela, por sua dor, angústia e dúvida.
E também chorei por ele, que talvez não tenha culpa de não saber amar.



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