2 de julho de 2008

Um pequeno GRANDE Conto...


Ele era o pequeno príncipe, o primogênito, o herdeiro do gigante, menino levado e mimado. Era independente, criativo e muito peralta. Botou fogo na casa duas vezes. Na escola era o terror, entre as garotas um sucesso. Dos professores sempre ganhava presentes e tirava boas notas. Era difícil de entender, conseguia ser o melhor aluno, e ao mesmo tempo o pior. Nas relações pessoas era muito querido sabia conquistar qualquer pessoa. O segredo? Acredito que aquele sorriso que derrubava fronteiras. Às vezes seu papai (o gigante) perdia a paciência com ele, e tornava-se bravo, muitas vezes assustador, tentou todas as formas educa-lo da melhor maneira possível. Pequeno príncipe curtiu sua infância, o fato de ser único deu a ele certas vantagens. Era muito amado por todos daquela corte. Bastava por na cara aquele sorriso maroto, e lá estavam todos derretidos. Inteligente mas sempre inquieto. Um belo dia logo que completou 04 aninhos fez o seguinte pedido a rainha:
_ Mãe me dá uma irmãzinha de brinco para brincar.

Então tendo mais um dos seus desejos atendidos, chega a princesinha de brincos para bagunçar a vida do príncipe, para dividir a atenção. E só muiiiito tempo depois ajudá-lo em suas constantes travessuras pela corte.
Ela sempre foi à princesinha da vida do Gigante. Mimada e amada por ele desde a primeira vez que a viu. Muitas vezes dormia em seu colo, outras tantas era levada para cama em seus braços. O gigante sempre a deixava adormecer no sofá, sabia que ela gostava assim. Levava-a onde fosse sempre foram companheiros. Ensinou a ela como “pensar grande” e a lutar pelos seus objetivos. Ela herdou dele o fascínio pelos livros e filmes, e herdou principalmente a capacidade infinita de sonhar... Dizia sempre: Filha por você eu mato e morro, você é a coisa mais linda do mundo.
Tanto paparico só poderia gerar ciúmes e confusões. Logo o príncipe percebeu que ter uma irmã de brinco não era tão divertido.

A vida seguia naquela corte, era um reino quase encantando. O pequeno príncipe e a sua seguidora a princesinha de brinco só tinham duas ocupações, brigar ou brincar. Transformam cada local daquele reino em um mundo encantado. Tinha o carro velho que virava ônibus, as altas prateleiras da loja que viravam apartamentos de luxo, as guias de depósito que viravam cheques, a hora do almoço que mais parecia um banquete em restaurante 5 estrelas. A limpeza da garagem tornava-se uma festa de sabão em pó. Para os dois infantes a imaginação não tinha limites.

Certa noite algo aconteceu na corte: [princesa com 4 anos, príncipe com 9]:

Tinham aprontado alguma travessura e foram chamados para uma conversa com a rainha, ela sempre generosa deixou a cargo do Gigante, ele muito justo, resolveu que aquela travessura passara dos limites, seriam castigados. O gigante da corte determinou soberano:
-15 cintadas para princesa de brincos que é menor. E 30 para o pequeno príncipe, que é mais velho, portanto deveria ser mais responsável.

Com grande nobreza, pequeno príncipe manifestou-se:
_Pai ela é muito pequenininha pode bater tudo em mim que eu agüento.

Foi então que o gigante tomado por grande ternura perdoou a travessura e chorou abraçado a seus dois pequenos tesouros. A surra?
Ficou esquecida e a nobreza da ação gerou sorvete para todos.

Os anos passavam naquela corte. Entre brigas e tardes de misto quente e refrigerante baré, o Pequeno Príncipe e a Princesa de brincos cresceram. Ele um jovem de 20 anos, ela uma bela moça de 14.

Uma certa noite, todo o reino parecia estranho, pequeno príncipe iria a um baile. O Gigante não aprovou. Ele apelou a instância da rainha, e ela cedeu. Sabia que ele iria de qualquer forma. Uma nova briga com a princesa, um motivo banal, e palavras que ela jamais esqueceu:
-Você nunca mais vai usar esse perfume... [se ela soubesse jamais as teria dito].
A rainha estava inquieta recebeu um beijo e o príncipe se foi. Ela o acompanhou até a varanda, onde ficou a observá-lo até que sumisse completamente de sua visão.
Naquela madrugada chegou à notícia... O príncipe JAMAIS voltaria.

O reino estava desfeito. O gigante chorou. A rainha era só desespero. E a princesa perdeu metade de sua vontade de viver. Nunca tinham visto tamanha dor e tristeza em um reino.
Descobriram que mesmo sendo unidos, jamais venceriam a todas as guerras. Nesse momento a Princesa de brincos compreendeu um pouco melhor que um NÃO dito por um PAI muitas vezes significava “meu filho eu te amo, não quero que você sofra”... Mas naquela noite o príncipe não entendeu o NÃO. E foi. Era apenas um baile, mais um como tantos que já tinha ido, a diferença é que naquela noite ele não voltou, levou com ele aquele sorriso maroto, deixando para trás uma saudade que ninguém jamais ira dimensionar. Com sua partida a tristeza nunca mais abandonou o reino.

A princesa cresceu, os laços de fita e os vestidos tinham sido definitivamente aposentados, era triste não ter mais o príncipe para compartilhar momentos, presentes de natal, festas de aniversário. Nem para brigar ou implicar com as roupas que ele sempre achava curtas demais, decotadas demais, apertadas demais ou pequenas demais. Nada tinha o mesmo sabor.
O gigante passou uma fase terrível, a tristeza quase o matou, ele não permitia que se falasse no príncipe seus olhos viviam marejavam de lágrimas. Foi um tempo de muita dor, culpa e lamentação.

O tempo continuou a avançar... O Gigante aos poucos voltou a sorrir. E a rainha, bom a rainha ainda trás em seus olhos uma tristeza, um misto de dor e saudade, algo que esconde, e que externa em lágrimas cada vez que lembra de seu amado pequeno príncipe. Por anos todos lutaram com a culpa, com as dúvidas e com todas as palavras que não disseram.

Foi preciso ver a princesa crescer e tornar-se uma mulher para perceber que ensinaram aos seus herdeiros o sentido da vida, que falaram tudo sobre caráter, dignidade, amor e compaixão. E que mesmo que fossem 5 ao invés de 2, cada filho seria diferente do outro. Demoraram a entender que caso tenham errado em algum momento erraram por amor, por proteção ao ser amado, e tentando acertar de todo coração.

O reino ainda existe... Mas nunca será o mesmo...

Xxxx

Hoje sonhei com o Pequeno príncipe. Estava lindo, com seu cabelo preto comprido voando no vento. Ele sorria e sorria tão lindo. Acordei chorando. Chorando de saudade e de dor. Por que pessoas tão especiais deixam nossas vidas, enquanto pessoas com existência tão inútil continuam aqui? Sei do egoísmo desse pensamento, e sei também que não sou nada para questionar a vida. Mas minha parte humana e cheia de defeitos ainda tem momentos de insanidade. Sinto muita falta daquele sorriso, da Baré no fim da tarde. Sinto falta da proteção que só um irmão mais velho pode oferecer. Sinto tanta saudade.

Ass: Princesa de Brincos...

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